Como o LAM-RIM é utilizado no Tibet?
O LAM-RIM é parte da medicina tibetana. É um trabalho de corpo que movimenta a energia que foi condensada no momento de algum trauma ou bloqueio, que os tibetanos consideram como causas e sintomas da maioria das doenças. Eles acreditam que se a gente estiver com o corpo fortalecido e equilibrado, nem as doenças viróticas nos afetam.

Como é a medicina tibetana?
A medicina tibetana se baseia em ervas medicinais com uso sistêmico e tópico, meditação, massagens e o LAM-RIM, que são exercícios que trabalham com a musculatura profunda, onde está gravada a nossa história de vida. O interessante é que, inclusive, alguém pode meditar por uma pessoa doente. A meditação pelo outro é feita quando o doente está incapaz e ele mesmo não consegue entrar em consciência meditativa e se sente ausente, deprimido, com pouca vitalidade corporal. As massagens funcionam quase como um pronto-socorro, são poucas sessões, até darmos conta dos processos e passamos para a terapia corporal LAM-RIM, que é a última etapa para uma vida livre e saudável.

Como o LAM-RIM foi descoberto pelos ocidentais?
O LAM-RIM foi proibido pelos chineses depois da segunda invasão ao Tibet, em 1959. Na primeira invasão, eles não entenderam porque foram derrotados: os tibetanos não usavam nenhum tipo de arma nem força física. Não aceitavam comandos, não resistiam, não colaboravam e ainda assim, venceram, passando todo tipo de privação. A população teve fome, frio, dor, mas sobreviveu com saúde. Na segunda invasão, os chineses entraram destruindo mosteiros e proibindo todo o tipo de prática, pondo fogo em bibliotecas e matando quem se atrevia a desobedecer. Até então, só os tibetanos tinham acesso aos conhecimentos do LAM-RIM. Com a fuga dos monges, incluindo o Dalai Lama, os ensinamentos foram passados para outros povos. Os refugiados foram obrigados a ensinar como forma de sobreviver em outros países.

O LAM-RIM é conhecido no mundo todo?
Não. No Brasil, por exemplo, somos apenas três terapeutas. Sou a única em Minas Gerais.

Onde você aprendeu as técnicas do LAM-RIM?
Primeiro em Amsterdam, na Holanda e depois no Tibet, há mais de dez anos. Eu já trabalhava com terapias curativas e a descoberta do LAM-RIM apontou um caminho fascinante. Já obtive resultados impressionantes com meus pacientes.

Qual é o trabalho do terapeuta LAM-RIM?
No Tibet, ele é responsável por uma família que pratica o LAM-RIM em grupo. Se um membro adoece, a responsabilidade é do terapeuta, porque ele deveria ter percebido o desajuste que causou aquela doença. Assim, ele fica responsável pelo tratamento, que inclui ervas, meditação e massagens. No Brasil, é mais comum as pessoas procurarem o LAM-RIM quando apresentam algum sintoma físico ou desajuste comportamental, enquanto no Tibet o LAMRIM tem um caráter mais preventivo, mas também é usado, quando necessário, para a cura. Quando a cura não ocorre, é porque é hora de preparar o espírito para ir embora.

O que você chama de desajuste comportamental?
É quando por exemplo, a pessoa fica “atacada”, perde o controle, fica deprimida ou se entrega a algum vício. Ainda assim, o LAM-RIM consegue transmutar a energia que ficou retida no corpo da pessoa, que é o que a faz agir dessa maneira.

Você falou sobre preparar o espírito para ir embora. Qual a relação do LAM-RIM com a morte?
No Tibet, as pessoas aceitam a morte com naturalidade. Em geral, o sofrimento do doente dura pouco porque eles não usam práticas invasivas ou corretivas como cirurgias, aparelhos de respiração etc.

Houve alguma adaptação dessas práticas no Ocidente?
Por causa da nossa cultura, alguns exercícios foram adaptados. As doenças não são diferentes. Os sintomas partem das mesmas causas: traumas e outras disfunções. Mas o nosso grau de impaciência para sarar é maior que dos orientais, assim como nossa facilidade para adoecer. Os primeiros monges que chegaram na Europa ensinaram as técnicas de LAM-RIM e os alunos fizeram algumas experiências com grupos de pessoas que apresentavam os mesmos sintomas, aplicando os mesmos exercícios. Os resultados foram positivos, comprovando o sucesso e trazendo aceitação.

Doenças como a Síndrome do Pânico podem ser tratadas pelo LAM-RIM?
A princípio, o LAM-RIM não trata doenças, mas a causa que levou àquela doença ou manifestação. Para O LAMRIM, é difícil tratar neuróticos e dependentes de drogas porque eles não querem ser tratados e normalmente não aceitam ser tocados. É preciso que o paciente queira a cura para que atinjamos nossos objetivos. Porém, não é necessário acreditar. O trabalho é técnico, e é preciso fazer e não crer para comprovar sua eficiência.

O LAM-RIM pode tratar vítimas de acidentes?
O LAM-RIM pode ajudar a recuperar muitos dos traumas físicos e psicológicos causados por acidentes. Mas após uma cirurgia, é preciso esperar quatro meses para começar o tratamento LAM-RIM.

Como funciona, afinal?
O LAM-RIM trabalha tornando acessível o que estava encouraçado. É como uma bola imersa na água: ela está lá, só quem está segurando sabe dela. Quando você relaxa e pára de gastar energia segurando aquela bola debaixo d’água, ela vem à tona e então está na hora de resolver o que fazer com ela. Você pode distribuir melhor sua energia pelo corpo.

Então, o LAM-RIM nos equilibra energeticamente?
Em geral, no nosso corpo, quando uma parte está com muita energia, outra parte está com pouca. Cada um vive o tratamento no seu tempo: alguns sentem imediatamente desbloqueio, prazer e clareza mental. Para outros, é trabalho pesado, demorado e tedioso. Mas o resultado é sempre a liberdade, o bem-estar e o equilíbrio físico, emocional, social, mental e espiritual. As mudanças são complexas e sutis.

É possível então criar novos padrões?
Sim. No LAM-RIM não trabalhamos com a memória, mas sim com a sensação e com as energias que foram condensadas. Às vezes, a memória pode nos enganar, apagando o que aconteceu ou transformando o que foi verdade. Os exercícios vão soltando o corpo e modificando os padrões.