Mais do que a mente, o corpo registra todos os traumas vividos. Eles ficam gravados na história de cada um, como uma energia bloqueada que pode causar doenças. “O corpo tem uma memória fantástica”, confirma Eneida Caetano, de 46 anos, especialista na terapia lam-rim. “A mente pode não se lembrar de algumas coisas. Ou ter lembranças que não correspondam a verdade. O corpo, porém , não mente. Ele registra tudo o que uma pessoa viveu”, explica.

Eneida encontrou na medicina tibetana o que estava buscando. “O LAM-RIM, cujo significado é Etapas do Caminho, desperta o que até então estava adormecido. É como uma bola imensa na água: ela está lá. Mas só quem está segurando a bola sabe. Quando a pessoa relaxa e pára de gastar energia segurando esta bola debaixo d´água, ela vem á tona e, então está na hora de resolver o que fazer com ela. De distribuir essa energia pelo corpo de uma forma melhor.

Fundadora, há sete anos, do Instituto LAM-RIM, no Vale do Sereno, em Nova Lima, Eneida, porém trabalha com massagem e exercícios curativos desde 1976. Tem formação em medicina preventiva tibetana e chinesa, shiatsu, bioenergética, cuidados posturais, banhos medicinais e meditação. Morou e estudou no Oriente, em mosteiros do Tibet, Tailândia, Nepal e Índia, além de Amsterdã, na Holanda . Esteve em 10 países para aprender mais sobre as técnicas, ritos tibetanos e meditação.

Ela conhece a história do LAM-RIM que foi proibido pelos chineses depois da segunda invasão ao Tibet em 1959. Na primeira invasão diz, “os chineses não entenderam porque foram derrotados, já que os tibetanos não usavam nenhum tipo de arma nem força física. Não aceitavam comandos, não resistiam, não colaboravam e, ainda assim venceram, passando todo tipo de privação. A população teve fome, frio, dor mas sobreviveu com saúde. Na segunda invasão, os chineses entraram destruindo mosteiros e proibindo todo tipo de prática, ateando fogo em bibliotecas e matando quem se atrevia a desobedecer”. Eneida explica que, até então, só os tibetanos tinham acesso aos conhecimentos do LAM-RIM. “Com a fuga dos monges, incluindo o Dalai-Lama, os ensinamentos foram passados para os outros povos. Os refugiados foram obrigados a ensinar como forma de sobreviver em outros países”.

No Tibet, um terapeuta LAM-RIM é responsável por toda uma família. “Eles praticam os exercícios em grupo. Se um deles adoece, a responsabilidade é do terapeuta, porque ele deveria ter percebido o desajuste que causou a doença. Assim o terapeuta cuida do tratamento, que inclui ervas, meditação e massagens. No Brasil, é mais comum as pessoas procurarem o lam-rim quando apresentam algum sintoma físico ou distúrbio comportamental, enquanto que no Tibet, os exercícios tem caráter preventivo, mas também são usados, quando necessário, para a cura.”

A descoberta dessa terapia revelou um caminho fascinante para Eneida. “os exercícios vão soltando o corpo e modificando padrões antigos, movimentando a energia condensada por algum trauma.

Com aulas uma vez por semana de 50 minutos cada, os exercícios trabalham a musculatura profunda”, esclarece. A terapia dura, em média, quatro meses, com apenas um tipo de exercício por sessão. São posturas simples, mas que mexem com as emoções e as lembranças. “Não tem nada de performance, mas eles conseguem desmanchar a resistência que as pessoas têm de entrar no processo terapêutico.

Apesar de a terapia ter sido adaptada à cultura ocidental, Eneida lembra que as doenças, porém não são diferentes de um país para o outro. “Os sintomas partem de traumas e disfunções. O grau de impaciência dos ocidentais para a cura, porém é maior do que o dos orientais. Assim como nossa facilidade para adoecer.”

Eneida lembra que o LAM-RIM não trata doenças mas os sintomas e causas. “Por isto , é difícil curar, por exemplo, dependentes de drogas, porque eles não querem ser tratados e normalmente não aceitam ser tocados. É preciso que o paciente queira a cura para que atinja os objetivos. Porém, não é necessário acreditar. O trabalho é técnico, e é preciso fazer, não crer, para comprovar sua eficiência. A terapia pode também ajudar a recuperar pessoas com traumas físicos e psicológicos causados por acidentes. Mas depois de uma cirurgia, é preciso esperar quatro meses para começar o tratamento.

A psicóloga Valéria Miranda Tolentino, de 38 anos, conseguiu desatar em sua vida muitos nós que a impediam de crescer e fazer as mudanças de que precisava. “Algumas questões emocionais estavam embaralhadas, até que conheci Eneida e os exercícios LAM-RIM. Foi uma agradável surpresa encontrar um processo terapêutico tão simples, mas poderoso, que trabalha a energia como um todo. Aos poucos , as coisas vão ficando claras, mais fluidas”.

Por ser psicóloga, Valéria teve um pouco de resistência. Não queria ir às primeiras sessões porque a terapia atinge níveis muito sutis. “Quando você percebe já conseguiu desbloquear emoções represadas por anos a fio. E também fazer as transformações necessárias, com muita leveza.”